Cancro do ovário

O cancro no ovário é caracterizado pelo crescimento descontrolado de células anormais no ovário, que conduz à formação de um tumor. Este tipo de cancro afeta maioritariamente mulheres na pré e pós-menopausa, com 80% dos casos diagnosticados em mulheres acima dos 40 anos de idade.

Apesar de ser pouco frequente, o cancro do ovário é um dos cancros ginecológicos mais letais, sendo a nona doença oncológica mais comum nas mulheres e a oitava mais mortal, com uma média de 380 mortes por ano.

Segundo dados do Observatório Global do Cancro (Globocan), em Portugal registam-se cerca de 600 novos casos de cancro do ovário por ano.

Sintomas

O cancro do ovário pode passar despercebido durante vários anos. Numa fase inicial, os sintomas podem ser confundidos com sintomas de outras doenças, nomeadamente do foro gastrointestinal (náuseas, enfartamento, obstipação, diarreia) ou do foro urológico (polaquiúria, urgência em urinar). À medida que a doença evolui, os sintomas vão também progredindo, mas muitas vezes o cancro só é detetado numa fase já avançada.

Sintomas mais comuns

  • Pressão ou dor no abdómen, pélvis, costas ou pernas;
  • Abdómen inchado ou sensação de enfartamento;
  • Indigestão, gases, prisão de ventre ou diarreia;
  • Sensação de cansaço.

Sintomas menos frequentes

  • Falta de ar;
  • Vontade constante de urinar;
  • Hemorragias vaginais invulgares (períodos de grande fluxo ou hemorragia, após a menopausa).

Apesar de estes sintomas não serem específicos do cancro, é importante que, face a esta sintomatologia, a mulher consulte o seu médico assistente.

Tipos de tumores

Os ovários são uma parte do sistema reprodutor da mulher e estão localizados na pélvis. Constituídos por duas glândulas (cada uma com o tamanho aproximado de uma amêndoa), contêm os óvulos e segregam as hormonas sexuais femininas: a progesterona e o estrogénio.

Compostos por diferentes tecidos, os ovários são revestidos pelo epitélio, e no seu interior contêm as células estromais e as células germinativas.

Existem vários tipos de cancro do ovário, dependendo da natureza das células afetadas.

Tumores Epiteliais

Os tumores epiteliais, desenvolvidos a partir do epitélio, são os mais frequentes, representando entre 80-85% dos casos. Segundo a classificação da Organização Mundial da Saúde, os tumores epiteliais do ovário dividem-se nos seguintes grupos:

  • Serosos;
  • Endometrioides;
  • Mucinosos;
  • Células claras;
  • Brenner;
  • Seromucinosos;
  • Indiferenciados;

Cada tipo de tumor pode ser depois dividido em três categorias: benigno, borderline (baixo potencial de se tornar maligno) ou maligno.

Tumores Não Epiteliais

Os tumores não epiteliais malignos do ovário representam cerca de 10% do total de tumores malignos do ovário e são mais comuns em mulheres jovens, incluindo adolescentes. Neste grupo estão incluídos os tumores do estroma gonadal, menos frequentes, e os tumores de células germinativas.

Diagnóstico

O cancro do ovário pode ter uma evolução silenciosa e é dos cancros mais difíceis de diagnosticar, sobretudo em estadios iniciais.

As mortes resultantes do cancro do ovário são sobretudo causadas por danos provocados pelas metástases (focos secundários), pelo que é essencial que se procure diagnosticar a doença o mais cedo possível, antes da sua disseminação no organismo.

Perante a presença de sintomas sugestivos de cancro do ovário, devem ser analisados os antecedentes pessoais e familiares da mulher e realizados um ou mais exames médicos.

No exame físico é avaliado o estado de saúde geral da mulher e analisada a eventual presença de um tumor ou de acumulação anormal de líquido. Para o efeito, o médico pressiona o abdómen ou retira uma amostra de líquido.

É feita a palpação dos ovários e órgãos adjacentes para verificar a existência de caroços ou de outras alterações no ovário. Apesar de o teste de Papanicolau fazer parte do exame pélvico normal, este não é utilizado para o diagnóstico do cancro do ovário.

O médico poderá pedir a realização de análises sanguíneas para avaliar o nível de várias substâncias indicativas de células cancerígenas no ovário.
A ecografia é um método de imagiologia que recorre a ultrassons – ondas sonoras inofensivas e indolores, de frequência superior ao limite dos sons audíveis – para ver em tempo real estruturas e órgãos. Este é um exame muito importante no diagnóstico do cancro do ovário, pois as imagens criadas podem revelar um tumor. Geralmente, opta-se pela realização da ecografia por via vaginal, para uma melhor visualização das estruturas.
A biópsia é um meio de diagnóstico em que se faz a colheita e exame de tecidos ou líquido, para identificar a presença de células cancerígenas. A partir dos resultados das análises ao sangue e da ecografia, o médico pode sugerir a realização de uma cirurgia (laparotomia), para retirar tecido e líquido da pélvis e do abdómen para análise.

Estadios de evolução do cancro

Após o diagnóstico de cancro no ovário, e para definir o melhor plano terapêutico, o médico determina o estadio de evolução da doença e a sua eventual propagação para tecidos adjacentes.

Normalmente, nesta fase é realizada uma cirurgia que permite retirar amostras de tecidos da pélvis e do abdómen, para averiguar a existência de células cancerígenas.

Para a avaliação da eventual disseminação do cancro, o médico pode requisitar exames como a TAC, Raio-X torácico e colonoscopia, de modo a determinar a presença de metástases.

Existem quatro estadios de evolução do cancro do ovário. O Estadio I é o mais precoce, quando a presença de células cancerígenas se restringe a um ou aos dois ovários. O Estadio IV é o mais avançado, caracterizado pela disseminação das células cancerígenas para tecidos fora do abdómen e da pélvis, nomeadamente para o fígado ou outros órgãos

Tratamento

O tratamento do cancro do ovário deve ser adaptado a cada doente, em função das suas características individuais (idade, antecedentes médicos e cirúrgicos, estado de saúde geral e características do cancro).

Segundo a Liga Portuguesa Contra o Cancro, as terapêuticas disponíveis para o cancro no ovário são o tratamento local, como a cirurgia e a radioterapia (raramente utilizada), e a quimioterapia.

Cirurgia

A cirurgia é geralmente a primeira linha de tratamento do cancro no ovário e tem como objetivo eliminar a totalidade do tumor e das células cancerígenas que podem alastrar para os órgãos adjacentes. Se o cancro já estiver disseminado, é removido o máximo possível do tumor.

Quimioterapia

Para além da cirurgia, a maioria das mulheres com cancro no ovário faz tratamentos de quimioterapia. Esta pode ser de dois tipos:

  • intraperitoneal, quando é administrada diretamente no abdómen e na pélvis, através de um tubo fino, com o objetivo de destruir ou controlar o cancro através de fármacos,
  • sistémica, quando atua de forma generalizada, introduzindo os fármacos na corrente sanguínea e podendo afetar todas as células do organismo.


Fontes:

– Bray, F., Ferlay, J., et al. (2018), Global cancer statistics 2018: GLOBOCAN estimates of incidence and mortality worldwide for 36 cancers in 185 countries. American Cancer Society.
– Fondation ARC Pour la Recherche sur le Cancer
– Liga Portuguesa Contra o Cancro
– Grupo Português de Estudo do Cancro do Ovário (2015) Manual do Cancro do Ovário. Lisboa: Permanyer Portugal.
– Sociedade Portuguesa de Ginecologia, Sociedade Portuguesa de Oncologia, Sociedade Portuguesa de Anatomia Patológica, Ordem dos Médicos (2017) Cancro Ginecológico – Consensos Nacionais 2016.